A felicidade mora na liberdade e, hoje, ela sabe disso

Deborah, como você se deu conta de que estava em um relacionamento abusivo, quais foram os sinais?

Perceber que está em um relacionamento abusivo não é tão simples o quanto parece, até porque, inicialmente, tudo é muito velado. O abuso nunca é explícito no começo dessa relação, na maioria das vezes aquele homem agressivo é uma pessoa gentil, educada, romântica, ele se apresenta como outro homem pra você. No início tudo são flores e, por isso, é tão delicado.

O meu primeiro relacionamento tóxico começou quando eu tinha apenas 16 anos. Jovem e inexperiente, eu não fazia ideia de que o tom de voz de alguém representava ameaça ou que me segurar com força pelo braço já configurava agressão física. Era tudo muito novo, muito subjetivo, o fato é que eu demorei muito para perceber que aquele não era um relacionamento saudável.

Entretanto, existiam sinais. Desde o começo do relacionamento, ele tentava me impedir de usar determinadas roupas, de falar com algumas pessoas (principalmente homens), de fazer coisas que eu queria, lembro que ele até achou ruim o fato de eu querer fazer faculdade depois. 

Ainda bem que pela minha personalidade, isso nunca me afetou. Sempre me mantive firme em todos os meus desejos e opiniões, mas sofri muita violência psicológica que trouxe sérios danos mentais após anos e anos. Isso porque o homem abusivo acredita que pode mandar em você e colocar a culpa de tudo que está errado com ele em você também.  

Isso faz com que você se sinta triste e insegura em boa parte do tempo, o que não deve acontecer em relação alguma. Um relacionamento saudável faz você se sentir bem, alegre, segura, em paz! Infelizmente, por não perceber que eu estava em um relacionamento abusivo, eu aguentei muita coisa... Brigas, gritarias, traições, foi muito difícil, mas graças a Deus, minha família, amigos e a força de vontade, consegui me libertar e hoje sou indescritivelmente mais feliz! 

E por qual motivo é tão difícil a mulher sair de um relacionamento ruim?

O primeiro item é o sentimento. Como eu falei, a paixão inicial é por uma pessoa que demonstra ser o que não é: um homem incrível, cheio de afeto, romantismo e amor pra dar. Então, quando menos se espera, a mulher se vê apaixonada e nem percebe o quanto são graves aquelas violações.

Conheço muitas mulheres, algumas mães, outras formadas, algumas diretoras, líderes, chefes de departamentos, com um intelecto invejável, que se submeteram a insultos gravíssimos porque amavam um homem que só as agredia. 

É difícil até aconselhar uma mulher assim, pois aquela paixão muitas vezes a cega, mas é importante que a família e os amigos estejam sempre ao seu lado mostrando o quanto ela é maravilhosa e que merece mais. Só quando ela toma uma boa dose de autoestima e se descobre como uma mulher incrível é que ela deixa de se sujeitar a determinadas situações.  

Outro ponto crucial que atrapalha o término de muitos relacionamentos abusivos é a dependência. No meu caso, isso não aconteceu. Tive uma família que sempre me ensinou a ser autossuficiente em todos os aspectos. Entretanto, muitas mulheres acabam tendo uma dependência desses homens, seja financeira, seja emocional, seja pelo bem da família que construíram (pois muitas delas são casadas e tem filhos), enfim, a dependência de outra pessoa é prejudicial em qualquer caso. Eu espero que, um dia, todas nós mulheres, entendamos que somos nós por nós. Somos fortes e autossuficientes para encarar qualquer desafio por mais difícil que ele pareça ser. 

Pra quem você pediu ajuda?

Deus sempre foi bom comigo. Sempre tive uma família maravilhosa, que me apoiou, me aconselhou e esteve comigo em todos os momentos. Meus amigos também sempre me ajudaram muito. Então, no meu caso, não foi necessário pedir ajuda, pois ela sempre esteve lá.

Porém, muitas mulheres não contam com esse apoio que é tão importante. Por isso, é preciso que nós estejamos sempre atentos ao que está acontecendo com as mulheres que a gente ama, e com os homens também. Homens e mulheres podem ser abusivos apesar de a prática ser mais comum com eles. Precisamos observar sempre os sinais de todos aqueles que estão próximos de nós e estarmos sempre dispostos a ajudar. 

Quero ressaltar aqui que a terapia também me ajudou muuuito ao longo dos anos. Esse tipo de vivência que temos, por mais que seja uma, duas vezes na vida, pode nos causar danos psicológicos por muito tempo. Com ajuda psicológica profissional, eu consegui melhorar consideravelmente em diversos aspectos. Lembrando que psicólogos e psiquiatras são profissionais que nos auxiliam na saúde e bem-estar como qualquer outro, nunca devemos ter vergonha de procurar esse tipo de ajuda. 

Como essa relação ruim te ajudou a ser uma mulher forte para que você tivesse uma relação saudável hoje?

Acredito que todas as experiências que temos contribuem de alguma forma para sermos quem somos hoje. As boas, as ruins, até as péssimas. Minha avó costumava dizer que a gente só aprende acertar errando. E isso faz muito sentido pra mim quando se trata desse assunto.

Após sair de um relacionamento tóxico, abusivo, possessivo, é que eu pude notar que muitas das experiências que eu vivi representavam um perigo para minha saúde mental, física, para minha vida. Depois disso, eu soube escolher, considerar melhor as pessoas com quem eu queria e deveria me envolver. 

Depois do que eu vivi, passei a observar os sinais de que falamos. A forma de agir comigo, com os outros, com os animais, até com as plantas, haha. Uma mulher nunca será a mesma depois de uma experiência assim. Quer dizer, algumas continuam batendo na mesma tecla, às vezes por uma situação de vulnerabilidade. Por isso é ideal sempre fazer um alerta, lembrar o quanto é importante ser amada, bem cuidada, desejada, e não o contrário.

Nós mulheres, merecemos o melhor, porque damos o nosso melhor. E o que nós precisamos é de reciprocidade. Não adianta dar amor e só receber dor, assim não dá. Assim está errado, precisamos perceber isso.

Hoje eu vivo um relacionamento saudável. Meu noivo ama a mim, a nossa filha, a nossa família. É alguém que me respeita e me ajuda sempre. Sou muito feliz e realizada pela minha vida e minha relação com ele hoje. Me sinto em paz, feliz, segura, protegida e amada. É o que todas nós merecemos ter: felicidade e muito amor!

Qual conselho você oferece para as mulheres que estão passando por isso?

AME-SE! AME-SE MUITO! AME-SE MESMO!

Antes dele, antes do seu trabalho, antes de qualquer coisa, ame você. Ame-se do jeitinho que você é. Pare de aceitar migalhas, de se diminuir, de se menosprezar, de não se valorizar. Comece a enxergar o seu valor.

Você vale tanto! Você é incrível! Cheia de qualidades, particularidades e peculiaridades. Cada cantinho seu é especial. Cada detalhe que tem em você é encantador. As características que te compõem, a sua essência, a sua autenticidade, o seu sorriso, a sua energia. Acredite mais em você, no seu potencial e no seu merecimento.

Você merece coisas boas, pessoas boas, relacionamentos bons, saudáveis, leves. Pessoas e relações que somem, que não te suguem o tempo todo.

Pare de se diminuir para caber em lugares pequenos demais. Pare de aceitar pessoas e relações que te fazem mal. Pare de ficar com quem não te merece, com quem não percebe o quão incrível você é, com quem tenta te diminuir e te faz duvidar do seu valor. Brilha, mulher! E não deixe ninguém ofuscar o seu brilho!  

E para finalizar Deborah, quem te inspira?

Minha mãe, principalmente. Ela é o maior exemplo de garra, força e resiliência no mundo pra mim. Depois dela, minha filha. Isabela me ensinou mais que todos os professores que eu poderia ter na vida, a maternidade me enlouquece, me intensifica e me inspira diariamente.

Fora elas, acredito que as artes. A dança, a música, o teatro, a leitura, o cinema...Tenho na arte uma fuga da realidade. Ela me alegra, me assusta, me ensina e me inspira todos os dias. Afinal, para mim, quem faz arte inspira sonhos, inspira amor!